sexta-feira, 18 de setembro de 2009
Cresce participação de ‘vovós’ em crimes no Rio
A participação de idosas em crimes no Rio vem, a cada dia, se tornando mais comum. A Polícia Civil prendeu nesta semana duas senhoras – uma de 76 e outra de 71 anos – em duas ações diferentes.
O fato de elas não despertarem suspeitas contribui para esse aumento. “Você não imagina que vai ser assaltado por uma velhinha, não é?”, pergunta o delegado Roberto Nunes, da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF).
Na quarta-feira (16), Nunes prendeu uma quadrilha suspeita de praticar roubos a bancos e sequestros-relâmpagos. Entre os indiciados, está Isaura Fernandes, de 76 anos, apontada pela polícia por fazer a “ponte” entre criminosos presos e soltos.
Idosa fazia a 'ponte', diz delegado
“Nós estávamos monitorando uma pessoa que pratica assaltos a banco e essa pessoa mantinha contato com uma mulher chamada Sheila, que é moradora de Realengo. Sheila mantinha contato com o filho da Dona Isaura, que é um traficante perigoso que está preso em São Paulo. Isaura e Sheila mantinham contato telenônico. Na casa de Isaura foi encontrada uma balança de precisão, cerca de R$ 500 e material de entorpecente”, conta o delegado.
Segundo ele, além de fazer a ponte entre criminosos, Isaura dava apoio logístico ao grupo. “Há suspeita que ela aceitava esconder criminosos em casa”. Isaura vai responder por tráfico de drogas, mas também é investigada em outros inquéritos policiais por formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Ela está presa na Polinter de Mesquita.
Na análise do delegado, alvo dos traficantes mudou. “A participação da mulher jovem, do idoso, e de crianças no crime vem crescendo sistematicamente em razão da polícia prender cada vez mais homens e adultos. Então, acaba sobrando para os idosos, que são menos visados. Quem vai pensar que um idoso, uma mulher e até uma criança estão participando do crime?”, indaga.
Para Nunes, a reincidência no crime também deve ser levada em conta. “Aqui na delegacia, há casos de ex-presos voltarem a atuar na mesma modalidade do crime. São presos que, mais velhos, voltam a praticar o crime”.
Dois dias antes da prisão de Isaura, a Delegacia da Criança e Adolescente Vítima (DCAV) prendeu Maria Pimentel, de 71 anos. Ela é suspeita de controlar parte da prostituição em Copacabana, na Zona Sul, e de pertencer a uma quadrilha especializada em explorar transexuais no Rio.
“Pimentel era responsável pela exploração num pequeno trecho que ia da Praça do Lido até a boate Help e cobrava R$ 30 por dia dos travestis para eles poderem se prostituir”, conta o titular Luiz Henrique Marques.
Mulher de 71 anos é temida entre travestis
Segundo o delegado, Pimentel, como é conhecida entre os travestis, é muito temida e "implantava o terror" na região.
“Os travestis morriam de medo dela. Há relatos de tortura, de que ela teria contratado traficante para torturar os travestis. E ela só poderia manter a exploração através da força. A meu ver, ela blefava muito, mas às vezes mandava aterrorizar. Se não houvesse esse mecanismo de cobrança, ninguém pagaria”, explica Marques.
O delegado conta que Pimentel ganhou "o direito" de explorar o trecho em Copacabana como forma de retribuição pelos serviços prestados anteriormente.
“Iarley, o travesti que era líder do grupo, ficou presa de 1999 e 2002. Nesse período, Pimentel fazia a exploração em Copacabana e repassava o valor para Iarley, na cadeia. Quando Iarley saiu da prisão, em consideração, cedeu esse trecho para Pimentel fazer a exploração sexual".
Iarley é Ulisses Menezes da Motta, um dos suspeitos presos na operação Babilônia II.
Segundo o delegado, a idosa de 71 anos é investigada também em outros dois inquéritos da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
“Há casos que idosos exploram sexualmente crianças e adolescentes. Esse pessoal é muito bem instruído. Eles vivem no mundo do crime há muitos anos”.
Uma pesquisa feita pela própria DCVA aponta que foi alto o percentual de crimes de abuso sexuais cometidos por idosos em 2008.
“Na faixa de 41 a 50 anos foram 18% dos casos; na de 51 a 60, o percentual foi de 10%, e acima de 61 anos, 6%. Um percentual alto se você levar em conta a idade dos abusadores”, contabiliza o delegado.
Cláudia Loureiro
Do G1, no Rio
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