sábado, 3 de outubro de 2009

Os preparativos para a primeira Cangagay


Palco armado, cores e muita alegria. A festa na praça principal de Serra Talhada, Sertão de Pernambuco, está quase pronta.
Organizadores do evento esperam "sacudir" a terra de Lampião, reunindo público de todo o estado. Foto: Solon Gomes /DS2 Fotos
Aguarda os ajustes finais para receber, hoje à noite, a primeira parada gay do Sertão nordestino, algo até então inimaginável na terra de Lampião, o homem que chegou a ser o mais temido do Nordeste. Os organizadores da Cangagay passaram a tarde de ontem na espectativa, vendendo camisas e preparando a decoração do lugar. Se no passado, precisavam se esconder por conta de ameaças de morte, hoje eles querem mostrar o rosto sem medo. Estão eufóricos com a repercussão do acontecimento, que simboliza a quebra de muitos tabus e deve atrair gente de todas as regiões do estado.

Segundo o coordenador do evento, Hélio Nascimento, a parada entra para a história com a bandeira do respeito à diversidade. Serve para mostrar que, até em terra de cabra-macho, como era conhecido Lampião, é possível conviver com as diferenças. Nas prévias da festa, muitaanimação. À tarde, quem passava pela praça Sérgio Magalhães, em frente à Igreja Católica de Serra Talhada, já podia ouvir uma música diferente. O DJ contratado quase fura o CD de tanto tocar Macho ma", enquanto um globo imenso de luz era instalado numa tenda eletrônica ala sertaneja. Foi só o início de um evento que entrou pela noite, ao som sensual do arrocha, de Cacauzinho e Os Daletis.

No palco, ao invés de sombrinhas de frevo, sombrinhas maiores, com as cores do arco íris, símbolo do meio GLS. Um sinal de que a causa defendida por eles é ampla e interessa a todos os estados. "Morei em São Paulo por 15 anos. Toda vez que eu vinha passar as férias aqui, em Serra Talhada, tinha que namorar com mulher, fingir ser o quen não sou, porque meus irmãos diziam que, se aparecesse um gay na família, matava. Era muito ruim. Hoje, a relação com os meus irmãos continua ruim, mas eu posso falar abertamento sobre o que sinto", frisou Hélio, bem sucedido estilista e empresário.

A estudante Renata Fernanda Morato de Barros, 17 anos, também comemora a liberdade de expressão. "Quando revelei a minha mãe e ao meu pai que era lésbica, meus irmãos ameaçaram me matar. Tive que sair de casa, passar dois anos em Bom Conselho até as coisas esfriarem. Agora, os tempos estão mudando e as pessoas nos respeitam mais", completou Renata. Observador anônimo da festa, o vendedor de picolé José Olímpio, 34 anos, demorou quase cem anos para revelar seu nome à reportagem. Disse não ter preconceito, mas relutou bastante para opinar sobre a parada gay. Parecia ter medo de expressar opinião e ser mal interpretado. Quando questionado, no entanto, se venderia picolé na festa, respondeu entusiasmado. "Sim, claro que vou. Dinheiro não tem preconceito", declarou. Para o aposentado João Pinto Barbosa, 71 anos, qualquer pessoa tem direito de participar da parada gay. Indagado, no entanto, se aceitaria ter um filho homossexual, respondeu sem pestanejar. "De jeito nenhum, botava para fora de casa", declarou, mostrando como o evento divide opiniões.

DP

Um comentário:

Unknown disse...

muito bem!isso mostra que as pessoas estão evoluindo,parabens ao cangagay!