sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Jornalista conta como conseguiu acesso à prova do Enem

Em seu blog A boa (e a má) educação, a jornalista Renata Cafardo, do Estado de S.Paulo, contou nessa quinta-feira como teve acesso à prova que vazou do Enem. A repórter recebeu um telefonema por volta das 15h30 da quarta-feira de um homem que dizia ter em mãos as 180 questões do exame. O rapaz pretendia vender a prova por R$ 500 mil. No texto intitulado “Bastidores do vazamento do Enem”, que até as 21h40 tinha 174 comentários, a maioria elogiando a postura da jornalista e criticando a fraude, Renata diz que, no telefonema, respondeu ao homem de “voz tremida” que desejava verificar a veracidade do exame e marcou em um café próximo ao jornal, à noite. Foi acompanhada de um editor e um fotógrafo, por questão de segurança.

“Sentamos os três no café e esperamos. Não sabíamos nome algum ou rosto de quem procurar, mas um dos informantes chegou primeiro e nos identificou. O outro chegou poucos minutos mais tarde, com uma pasta cheia de papéis”, relatou no blog. “Eu pedi para ver a prova e eles a colocaram, sem cerimônias, na mesa.” O material continha logotipos do governo federal, das empresas organizadoras do exame e do Inep. “Ao folhear a prova, não acreditava no que via. As questões tinham o perfil do Enem, um exame que cobra competências e habilidades, usa temas cotidianos”, escreveu.

Em dois minutos, Renata viu tiras da Mafalda e do Garfield, uma bandeira do Brasil com a área verde parcialmente suprimida, simbolizando o desmatamento, trechos da Canção do exílio, de Gonçalves Dias, e de reportagem da revista Veja. “Tratei de decorar o máximo de questões possíveis”, disse ela. Os rapazes, que tinham por volta de 30 anos, se negaram a mostrar a redação. Cobraram R$ 500 mil pela prova. “Deixamos claro que o Estado repudiava esse tipo de comportamento, que aceitaríamos denunciar o vazamento desde que não pagássemos por isso”, frisou.

Segundo ela, a postura da direção do jornal foi entrar em contato com o ministro Fernando Haddad e só publicar matéria caso chegasse a confirmação de que a prova era verdadeira. Em quatro horas, a jornalista falou dez vezes com Haddad, “que prontamente nos informou as providências que estavam sendo tomadas”. Pouco antes da 1h de ontem, o MEC confirmou que o Enem seria cancelado.

Do Jornal do Commercio

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