sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Eduardo diz que não houve pressão


No mesmo dia em que colaborou para a eleição da deputada federal Ana Arraes (PSB) ao Tribunal de Contas da União (TCU), o governador Eduardo Campos (PSB) concedeu entrevista ao programa “Poder e Política”, no portal da Folha de São Paulo. O socialista admitiu que articulou a indicação de sua mãe com os deputados, mas negou que tenha ocorrido “pressão excessiva” sobre a Câmara. “A Câmara não aceita esse tipo de interferência”, ressalta Campos. Na conversa, o governador ainda falou sobre as especulações sobre uma possível candidatura à Presidência da República e até uma eventual formação de chapa com o senador Aécio Neves (PSDB-MG). “Nós apostamos que ela tenha as condições de ir à reeleição. Na hora em que nós entendermos que o partido deve ter um candidato eu acho que chega a hora de a gente sair do Governo e ficar à vontade”. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

CAMPANHA AO TCU
Fui deputado federal em três legislaturas e tive a oportunidade de votar várias vezes para vários companheiros irem ao TCU. Na verdade, nunca passou pela nossa cabeça que a deputada Ana Arraes, do PSB, seria candidata ao TCU. Quando apontava ali a aposentadoria do ministro Ubiratan Aguiar, em quem eu votei em 2001 para ir para o TCU, até pensamos em outros nomes, que declinaram do convite. Enfim, mais do que de repente um conjunto de parlamentares animaram a deputada Ana Arraes para esse desafio. E como presidente do partido eu não poderia faltar ao nosso apoio. A quem me procurou eu pedi um voto. Não poderia fazer diferente.

DIA DA VOTAÇÃO
Eu estava na casa do presidente Michel Temer, num debate com diversos partidos sobre a reforma política, quando chegou o resultado das eleições. Então era inevitável que eu falasse com (o ex-presidente) Lula, que estava ali do lado, de quem eu também fui ministro, de quem eu sou amigo. E que expressou, claramente, em algumas oportunidades, em reuniões que fez, o apoio político à candidatura de Ana, como outras lideranças que não são sequer da base de sustentação do nosso Governo Federal, como o governador (de São Paulo, Geraldo) Alckmin (PSDB) e outros companheiros do PSDB, como o próprio líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira, o próprio senador Aécio Neves (PSDB-MG).

PRESSÃO
De forma nenhuma (houve pressão excessiva). A Câmara é soberana, não aceita esse tipo de interferência. O voto no plenário se dá em outra lógica. Fui parlamentar, fui líder partidário, vivi intensamente a Câmara. Qualquer movimento na Câmara que venha de fora para dentro é normalmente refutado. Os que disputaram com Ana Arraes são parlamentares experimentados, respeitáveis, nomes consolidados na política brasileira. Foi uma disputa que o Parlamento decidiu. Você não imagina que eu tendo uma companheira de partido, que foi a deputada federal mais votada do meu Estado, pela expressão dos votos, que tem formação em Direito reconhecida, que é concursada da Justiça brasileira, por concurso público, se coloca legitimamente dentro da regra estabelecida pela legislação brasileira numa disputa, e que eu não pudesse dar um telefonema a um deputado amigo meu um voto ou uma atenção para a candidatura dela. É óbvio que fiz isso, como fiz de outros companheiros muitas vezes. Ela disputou a eleição com Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que é um querido amigo de quem eu fiz campanha para presidente da Câmara por mais de uma vez.

FORÇA POLÍTICA
De forma alguma. Isso (eleição para o TCU) não tem uma relação com o mundo da política fora do Parlamento. Essa é uma discussão própria do Parlamento brasileiro para uma corte de contas, como se faz rotineiramente. Eu tive oportunidade de diversas vezes apoiar candidatos que não eram nem do meu partido nem do meu conjunto político, mas que era próprio da dinâmica ali do Parlamento. Pessoas que demostravam ter experiência, espírito público, formação para ser julgador.

DILMA E LULA
A presidente Dilma é sucessora de um mesmo projeto político e de um projeto no País. (Ela e Lula) têm diferenças, claro. Têm diferenças de caminhada, de estilo pessoal. Mas o fundamental é que eles estão no mesmo projeto. Quem imaginar que vai colocar Dilma em um projeto e Lula em outro efetivamente, eu acho que está imaginando errado. Não vai conseguir. Claro que os estilos, a formação pessoal, a história de vida de cada um, em tudo isso dá para perceber diferenças. Mas no fundamental, no que é objetivo, no que é essencial ao projeto político e de País, eles vão estar juntos. A presidente Dilma tem mais um viés, digamos, mais executivo, de quem cuidou por oito anos, inclusive, da gestão no governo do presidente Lula. Ela nunca teve mandatos no Parlamento, ou vida orgânica nos partidos. Isso tudo se percebe, o quanto um tem mais desenvoltura na articulação política, no diálogo com os dirigentes partidários. Mas o fato objetivo é que a presidenta Dilma tem se saído melhor, a meu ver, como presidente do que como se saiu como candidata. Eu tenho expressado em nome do nosso partido a ela a nossa solidariedade com as decisões que ela tem tomado, com o equilíbrio que ela tem demonstrado.

REELEIÇÃO DE DILMA
Todo o esforço do conjunto da base do Governo é no sentido de dar à presidenta Dilma as condições de fazer a disputa de 2014. O PSB estará pronto (para apoiar a reeleição de Dilma). Nós estamos na base de sustentação do Governo, temos torcido pelo êxito do governo dela, temos sido parte da solução, não temos sido parte do problema. Temos todo o interesse de ajudá-la para que ela ajude o Brasil em um momento tão complexo da vida mundial. Nós temos dois grandes blocos econômicos importantes para o Brasil vivendo uma crise que a meu ver não vai ser superada em uma questão de dias ou de meses. Como o que acontece hoje na Europa e nos Estados Unidos da América, ainda em consequência de 2008. E nós precisamos pensar o Brasil, pensar as futuras gerações, até para não vivermos os mesmos problemas que estão sendo enfrentados por esses blocos econômicos. Nós temos aí uma janela demográfica importante, para tomar decisões importantes, para alavancar o investimento público, para investir em inovação, para dar competitividade à economia brasileira. Essa é uma temática que eu acho que deve vir para a mesa do debate brasileiro. Eu não vejo isso (Dilma fora da reeleição). Um ato pessoal dela de não querer, de não desejar e não pleitear. Na jovem tradição brasileira com a permissão de reeleição, todos os governantes, prefeitos, governadores e presidentes têm ido para a reeleição e, na esmagadora maioria das vezes, não havendo um desastre de administração ou não tendo uma competição muito desequilibrada do ponto de vista político, os gestores têm tido êxito numa reeleição.

FUTURO POLÍTICO
Eu já fui na política mais do que imaginavam e do que eu imaginava que ia ser. Eu tenho 46 anos de idade. Já fui deputado estadual, com papel no meu primeiro mandato reconhecido pela sociedade pernambucana. Depois, três vezes deputado federal, tendo sido o mais votado no Estado. Fui ministro, fui secretário de Estado, governador pela segunda vez. E acho que a gente pode fazer política sendo candidato a muitas outras coisas, mas não necessariamente tendo mandato. Eu sou presidente de um partido político, que é uma atividade que me encanta muito, construir um partido.

EDUARDO EM 2014
Eu não discuto isso. Sinceramente, até porque eu acho que é tão longe 2014, até com respeito ao eleitorado e com respeito ao bom senso brasileiro. Quem fica discutindo eleição três anos antes discute, discute e não consegue êxito. Eu fiz duas eleições majoritárias recentes. Graças a Deus e à generosidade do povo pernambucano, tive êxito nas duas. Porque discuti eleição no tempo certo. Cada dia que passa a sociedade deseja mais dos políticos discutir a sua pauta e não a pauta dos políticos. (...) Eu acho que hoje é precipitado dizer que o PSB vai ter um candidato a presidente. Nós somos parte de uma base de uma presidenta que pode ir à reeleição. Nós apostamos que ela tenha as condições de ir à reeleição. Na hora em que nós entendermos que o partido deve ter um candidato eu acho que chega a hora de a gente sair do Governo e ficar à vontade. Mas neste momento a decisão do partido é muito claramente de apoiar a travessia da presidenta Dilma no seu primeiro instante de governo, ajudar o Brasil e tratar de eleição lá em 2014. Antes é precipitação.

CHAPA COM AÉCIO
Nós já estamos ao lado de Aécio Neves em Minas Gerais. Em Belo Horizonte, em particular, estamos do lado de Aécio. Se você for andar em Minas Gerais, tem mais aliança lá no interior do PT com o PSDB do que com o PSB. Como tem também em outros Estados. No meu Estado, por exemplo, existe esse tipo de aliança. Mas 2014 ainda não chegou para a gente estar discutindo 2014 agora. Eu faço parte de um conjunto de forças. Aécio, que é meu amigo, de quem fui colega na Câmara, tive oportunidade de votar nele para presidente da Câmara, fazer sua campanha. Ele foi um grande presidente da Câmara, que cumpriu os compromissos que assumiu, inclusive com a oposição. A própria Comissão de Participação Popular, que era sugestão da (deputada Luiza) Erundina (PSB-SP) para ele para apoiá-lo ele cumpriu e honrou, e a primeira presidenta foi a Erundina. Nós temos uma relação muito boa. Nós somos amigos a despeito da política. Ele hoje está na oposição. Ele está bem na oposição e eu estou bem no Governo.

ALIANÇA COM O PSD
O processo de consolidação do partido ainda está acontecendo. Eu fui colega do (prefeito de São Paulo, Gilberto) Kassab no Congresso Nacional, temos parcerias do PSD com o PSB em diversos Estados. Além do PSB com o PSD em outros tantos. É fato também essa parceria que ele tem com Estados com o próprio PT, em outros com o próprio PSDB. Não discutimos (a formação de um bloco entre PSB e PSD na Câmara) ainda. Não houve esse debate. Esse debate caberá à Câmara fazer. Não cabe a mim. Eu acho que o PSD é um bom aliado. Um bom aliado nos vários Estados será um bom aliado nosso. Mas a dinâmica do Parlamento vai caber às nossas bancadas decidir.

ESQUERDISTA
Me considero um político de esquerda, sim. Até porque essa foi a minha formação, minha caminhada. Agora, o que é que é ser de esquerda hoje? É a mesma coisa que ser de esquerda no início do século passado na União Soviética? Não é. Quer dizer, o mundo mudou, a relação de trabalho se alterou. Eu acho que muitas experiências não deram certo, outras deixaram um legado, enfim. Nós precisamos compreender as alterações que foram processadas pela ciência e pela humanidade para compreender o que é ser de esquerda hoje.

MANOEL GUIMARÃES(FOLHA DE PERNAMBUCO)

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