quinta-feira, 2 de abril de 2009

União pede desculpas a Arraes


A Abertura da 20ª Caravana da Anistia, promovida ontem, no Palácio do Campo das Princesas, foi marcada pela emoção. Na ocasião o ministro da Justiça, Tarso Genro, assinou a anistia do ex-governador Miguel Arraes, e foi feito um pedido de desculpas público e oficial da União aos seus familiares. O governador Eduardo Campos, neto de Arraes; a deputada federal Ana Arraes (PSB), filha; a viúva Madalena Arraes, além de outros membros da família, mostraram-se bastante tocados com a homenagem. Também presentes estavam o prefeito de Recife, João da Costa, e o presidente da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, Paulo Abraão, entre outros.


Na manhã do golpe de 1964, dois estudantes que marchavam pelo centro manifestando apoio a Arraes foram mortos pelos militares. Eram Ivan Aguiar e Jonas Barros, cuja irmã, Marisa Barros, aproveitou o evento para presentear Eduardo com um broche da campanha de Miguel Arraes ao Governo, em 1962. “Jonas o usava com muito carinho próximo à gola da camisa. Após sua morte, guardei. Presentei-o ao governador como lembrança do avô, que deve sempre ser lembrado”, disse. Emocionado, o Eduardo não pôde mais deter as lágrimas que disfarçava desde o início do evento.


Uma gravação feita por Arraes, antes de deixar o Palácio e ser deposto, também foi reproduzida para os presentes: “Talvez, nesse momento, eu já seja um prisioneiro do 4° Exército, talvez eu já atravesse a porta desse gabinete preso, mas nunca os senhores conseguirão que o atual governador de Pernambuco saia dessa sala desmoralizado. Eu tenho o mandato que me foi conferido, não pelos senhores, mas pelo povo. Os senhores não podem retirar essa representação que o povo me conferiu. Além disso, tenho nove filhos, que terão que saber no futuro como que o seu pai se comportou nesta hora. Enquanto eu for governador de Pernambuco, não aceitarei a menor limitação às minhas prerrogativas constitucionais”.


Eduardo Campos lembrou da força popular que marcou a trajetória de seu avô, e marca também a sua. “Da mesma forma que há 45 anos tiraram Pelópidas da Prefeitura (do Recife), o povo botou João da Costa na Prefeitura. Da mesma forma que retiraram doutor Arraes pela força do arbítrio, o povo me trouxe aqui”, declarou.


Paulo Abraão afirmou que os 45 anos do golpe não poderiam ter sido lembrados em melhor local, que não Pernambuco. O ministro completou, afirmando que “para o direito tradicional, a anistia é o perdão do Estado a um cidadão, mas nós trabalhamos com outro conceito, o de pedido de desculpas por parte do Estado, ao cidadão”. Recebeu, então, do governador, o acervo do Instituto de Criminalística do Governo do Estado para o Projeto Memorial, do ministério.


Vera Baroni recebeu sua indenização em nome dos 32 anistiados políticos beneficiados este ano. Depois disso a presidente do Instituto Dom Helder Câmara, Lúcia Moreira, deu seu testemunho da vivência com o arcebispo (falecido em 1999), também homenageado na ocasião. “O amor fez com que ele se comprometesse com a vida e liberdade de todos”, afirmou. Fonte:FOLHA DE PERNAMBUCO

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