Sem encontrar quem a ajudasse, a faxineira Tânia Maria da Silva, 46 anos, não teve dúvidas: acorrentou à cama o filho dependente de crack e chamou a polícia. A mulher não sabia o que fazer para proteger Neyvson, 20 anos, que passou a roubar e ser ameaçado de morte por causa do vício.
Às 13h30 desta quarta-feira (14), dois policiais militares do 11º Batalhão chegaram à residência da família, cravada numa escadaria do Córrego da Bica, em Nova Descoberta, Zona Norte do Recife, e levaram mãe e filho à Delegacia da Macaxeira. No início da noite, os dois voltavam para casa sem perspectiva de tratamento para o jovem.
Tânia Maria disse não ter-se dado conta de que submetia o filho a cárcere privado, o que configura um crime. “Faz seis meses que não sei o que é comer nem dormir direito, só aperreada com o menino, com essa droga. Acorrentei porque não aguentava mais. Fiquei aliviada porque sabia que, dentro de casa, ele não iria sair para pegar o que é dos outros”, contou.
A mãe começou a prender Neyvson Durval da Silva sábado, quando comprou a corrente. O rapaz gritava para ser solto. Tânia desatou as amarras em algumas ocasiões, como na manhã de ontem. Neyvson aproveitou para consumir crack. Quando retornou, os pais perceberam e acionaram a PM.
Coube ao cabo Amiel Alcântara desvencilhar o rapaz das correntes. “Como PM, não é a primeira vez que presencio cenas assim. Mas fico emocionado como cidadão.” Sob a vista dos vizinhos, o jovem saiu do Córrego da Bica algemado.
Na delegacia, o comissário Marcos Vinícius Jordão afirmou que a mãe seria liberada, no entanto não poderia deixar de registrar a ocorrência. “Estamos vendo que ela fez o que fez por amor, mas temos que fazer o procedimento. Agora, caberá à Justiça decidir se ela responderá pelo cárcere privado.”
Neyvson contou não estar magoado com a mãe. “Tenho a mente fraca mesmo.” Disse que tentou largar o crack por conta própria, sem sucesso. “Agora, só o que me salva é tratamento ou a Igreja.”
Tânia admite que nunca soube onde buscar ajuda. Para André Fidélis, coordenador da Pastoral da Juventude nos Meios Populares, ligada à Igreja Católica, a ausência do Estado nas comunidades pobres contribui para o problema. “Os serviços não estão próximos e há pouco diálogo.”
A Prefeitura do Recife lembra que o Centro de Atenção Psicossocial CPTRA, ao lado do Hospital Ulisses Pernambucano, na Tamarineira, Zona Norte, tem profissionais capacitados para dar apoio e tratamento. É a unidade especializada em atender usuários de droga mais próxima da casa de Neyvson e funciona 24 horas.
“A família pode agendar uma visita, para criar vínculo com o serviço. O caso passa a ser acompanhado pelo CPTRA e pelo agente de saúde da família do bairro onde eles moram”, informa a gerente de redução de danos da Secretaria de Saúde do Recife, Pollyanna Pimentel. O telefone é o 3232-4330.
Do Jornal do Commercio
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