quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Aposentado dorme no caixão para homenagear amigo morto há 23 anos


O aposentado Zeli Ferreira Rossi, 60 anos, tem um hábito incomum e que chama a atenção de moradores no entorno do Bairro Santa Terezinha, em Governador Valadares (MG). Todas as sextas-feiras ele segue para um quarto de sua casa, onde dorme em um caixão que ganhou de um amigo em 1983. A rotina se repete há 23 anos em homenagem a esse amigo, desde a morte dele em 1988.

"Esse meu amigo achou que eu tinha morrido. Há 28 anos, eu sofri um grave acidente de carro, fiquei quatro meses internado no hospital e oito dias na UTI [Unidade de Terapia Intensiva]. A gente tinha o acordo de comprar o caixão de quem morresse primeiro. Por achar que eu estava morto, ele comprou o caixão e mandou entregar em minha casa. Fiquei sem usar o presente por cinco anos", disse Rossi, que também é conhecido na cidade como "Zé do Caixão".

No acidente, o aposentado sofreu traumatismo craniano e fratura no fêmur de uma das pernas. "Andei um ano em cadeira de rodas e três anos usando muletas. O fêmur da minha perna moeu e ando mancando até hoje", disse Rossi.

Rotina noturna
Ele afirmou que o hábito de dormir todas as sextas-feiras no caixão, até mesmo às sextas-feiras 13, não tem nada de macabro e nenhuma ligação religiosa. "É uma homenagem a esse amigo. Ele era bandido e foi morto com 14 facadas, em Vitória, em uma sexta-feira. Ele me deu o caixão, mas morreu antes de mim."

O aposentado afirmou ainda que, assim como combinado com o amigo, comprou o caixão para o sepultamento do companheiro morto. "Comprei um zerinho para ele e fiquei com o caixão que ele tinha me dado de presente."

Filho da curandeira Luzia Ferreira Rossi, famosa em Governador Valadares e que morreu em 2004, ele chegou a seguir os passos da mãe por alguns anos. "Ela era muito conhecida aqui na cidade. Ela fazia garrafadas, benzia crianças e fazia curas. Trabalhei com ela e segui com essa vocação por alguns anos após a morte dela, mas hoje eu parei. De vez em quando alguém me procura para benzer, mas sempre quando é sexta-feira 13."

Mulher
Rossi é casado há 41 anos com Cleusa Pereira Rossi, 56 anos, e garante que ela não acha estranho o hábito de dormir no caixão. "Ela mesma brinca que um dia vai dormir lá também. Mas comigo ela não dorme no caixão, porque lá não é lugar para isso. Para o amor eu tenho os outros dias da semana. Eu estou velho, mas ainda me divirto", disse o aposentado.

Segundo ele, é ela que fecha a tampa do caixão à meia-noite. "Só acordo por volta das 6h para tomar café. Nunca senti falta de ar. Sempre faço minhas orações. Rezo um terço toda vez que me deito no caixão", lembrou o aposentado.

"Uma vez, quando viajamos para uma praia no Espírito Santo, não conseguimos voltar antes de sexta-feira e por isso tivemos de pernoitar na cidade. Não consegui dormir. Fiquei com insônia sem meu caixão. Foi péssimo", disse Rossi.

Celebridade
Zé do Caixão afirmou que seu hábito noturno de todas as sextas-feiras se tornou público por causa do neto, Otávio Rosse, 14 anos, que publicou a história no Jornal Escola, publicação extra-curricular da Escola Municipal Santos Dumont, que foi veiculada em julho deste ano.

"Foi um trabalho para melhorar a auto-estima dos alunos da região. O objetivo era mostrar curiosidades de moradores dos bairros vizinhos", disse a professora Janaína Martins Toledo.

"Depois que saiu esse jornal, sempre recebo visita de pessoas que querem conversar comigo, pedem para benzer. As pessoas gostam de mim porque sempre dou bons conselhos", afirmou Zé do Caixão.

Glauco Araújo
Do G1, em São Paulo

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