sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Atores negros denunciam falta de espaço na TV


Considerado um dos maiores nomes da teledramaturgia brasileira, Milton Gonçalves tem orgulho de ser negro. E faz questão de deixar isso bem claro todos os dias.

E é por ser consciente da luta dos negros ao longo dos tempos que ele responde, quando a reportagem questiona qual a importância do fato de Taís Araújo, uma atriz negra, protagonizar a novela das oito, Viver a Vida (Globo).

- Importância eu não dou nenhuma. Isso é fruto de um progresso que vem de outros pioneiros também. Há muito tempo estamos lutando por isso. E é bom não esquecermos que somos mais da metade da população.

Gonçalves sonha em eliminar um dia a atual prática que determina que o autor de uma novela explicite a raça dos personagens para os profissionais que vão escalar o elenco.

- Desde que não sejam papeis históricos, não precisa da rubrica “ator negro” ou “ator branco”. Isso é preconceito.

O ator Michel Gomes, morador de uma comunidade pobre do Rio, já protagonizou o filme Ônibus 174 e agora interpreta o personagem Paulo, em Viver a Vida, sua primeira novela. Para Gomes, a situação do negro evoluiu.

- Acho que, aos poucos, essa história de preconceito cairá por terra. Aos poucos, a gente chega lá. Veja em Viver a Vida, no núcleo ao qual pertenço todo mundo é negro. Aos poucos a gente chega lá.

A atriz e bailarina Quitéria Chagas, que só conseguiu fazer novela na pele de empregada doméstica, espera uma valorização do negro na televisão.

- Avançou, mas tem que melhorar muito mais. Por enquanto, o negro na televisão ainda se sente a cota.


Taís Araújo interpretou a vendedora Preta, em Da Cor do Pecado (Globo) - Foto: Divulgação

Mestre em sociologia pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Daniel Martins afirma que a representação do negro na TV influencia a forma como a sociedade enxerga essa população.

- Há uma pesquisa que ouviu adolescentes brancos e negros de escolas públicas e perguntou como eles se veriam aos 30 anos. Os brancos disseram que seriam advogados, funcionários públicos, engenheiros, médicos. Já os negros citaram profissões como secretária, porteiro, cobrador de ônibus. Um dos motivos para isso é que nas novelas o negro é quase sempre o porteiro, a cozinheira, quando não é o bandido. Raramente ele assume posição de destaque. Mesmo a Taís Araújo, que hoje vive uma modelo rica, nas outras duas novelas que protagonizou, numa era escrava e em outra era vendedora de tapioca.

Exemplo de sucesso profissional, Glória Maria lembra que, quando começou na TV, a situação era ainda pior.

- Quando eu comecei no jornalismo, eu era a única negra da equipe do Jornal Nacional. Hoje, já tem o Heraldo Pereira, que apresenta, e alguns outros. Mas ainda é preciso melhorar muito. Estamos apenas no começo dessa briga. Espero que um dia o talento supere o preconceito.

Miguel Arcanjo Prado, do R7

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