quinta-feira, 13 de novembro de 2014

SANTA CRUZ DE ONTEM


AMARAL PUBLICIDADE

Amaral em 1976 apresentando o folclore da Escola Pe.Zuzinha
Num tempo em que nem se cogitava a possibilidade de existir uma rádio em Santa Cruz do Capibaribe, que se servia radiofonicamente das três emissoras AM de Caruaru – Difusora, Cultura do Nordeste e Liberdade – e das três de Campina Grande – Cariri, Borborema e Caturité –, nascia o Serviço de Som Amaral Publicidade.
Francisco Amaral em 2009
O embrião da comunicação falada em Santa Cruz surgiu de uma ideia persistente de Francisco Amaral, que alugou uma salinha na Av. João Francisco Aragão, em frente onde fica o Banco Itaú, e espalhou alto-falantes pelas ruas. Da Rua Grande até a Pe. Estima. Isso lá pelos idos dos anos 70...

Durante todo o dia, músicas e notícias enchiam os ares de Santa Cruz. Ficou na minha memória de menino, e me vem nitidamente ainda hoje, os acordes musicais do noticiário, que era em cadeia com a Rádio Liberdade de Caruaru, sob o patrocínio (na rádio) da Sanepe (hoje Compesa); lembro-me dos malabarismos que o controlista tinha que fazer para suprimir a vinheta do patrocinador e substituir pelo patrocínio local.
À noite, um programa muito movimentado era o "De alguém para você", através do qual os jovens se ofereciam músicas. As pessoas colocavam cadeiras nas calçadas, para conversarem, em animadas “malas”, ouvindo as canções que Amaral tocava, noite adentro.
Rafael Lopes o primeiro a acompanhar
as quadrilhas de Amaral com seus oito baixos
No tempo de eleição, a atenção era total. Na época da contagem manual de votos, quando a característica musical anunciava a abertura de mais uma urna, uma verdadeira multidão acorria para as proximidades dos alto-falantes, de lápis e papel em punho, para anotar as parciais, depois do quê, explodiam em gritos e fogos os partidários do candidato que estava à frente, enquanto os correligionários do concorrente, desfavorecido naquela urna, ansiavam pela próxima, para “tirar a vantagem” e “fazer frente” ao adversário.
Biu Marcelino tocou muitas quadrilhas 
sob o comando de Francisco Amaral
Eram locutores, além de Amaral (que na época era conhecido como "Chico do Xangô"), Severino José (filho de Marcina, meu amigo de infância e colega de primário, a quem chamávamos de "Cuia", e de quem nunca mais soube notícias) e José Oliveira (um meninote, na época). Foi também em Amaral Publicidade que o jovem Geraldo Costa dava seus primeiros passos no talento com os botões eletrônicos do painel de controle.

Além do serviço de som, e mais tarde, Amaral manteve uma parceria com Antonio Lopes do Nascimento, empresário do ramo de panificação (Padaria Flórida), pai da atriz Avani Lopes: tratava-se de "AL Propaganda", um carro de publicidade volante, pertencente a “Antonio Saturnino”, administrado pelo locutor.
Jota Oliveira nos tempos de locutor de Amaral Publicidade

Além disso, Amaral se destacou como gritador de quadrilha, nos bons tempos em que as quadrilhas de rua eram a grande atração do São João de nossa terra. Tudo começou no Club Treze de Maio (na artéria de mesmo nome, centro da cidade), saindo, em seguida, para as ruas, com a quadrilha do Mobral, entre outras, e acompanhado do sanfoneiro Rafael Lopes (pai de Avenor Lopes e integrante da caravana de Ivan Bulhões), e depois Biu Marcelino.
 
Geraldo Costa foi
um dos primeiros 
talentos lançado
por Amaral.
Por outro lado, as vaquejadas, narradas com presteza por Amaral, fizeram seu nome conhecido em toda a região, pois Chico sempre foi apaixonado por esta festa nordestina. Não posso falar muito desses eventos de “queda de boi”: por não gostar desse festejo, devo ter ido apenas a uma ou outra, mas nenhuma com a presença de Amaral.

Francisco Amaral também teve (mesmo sem o saber) grande parcela de importância na minha infância, eu que sempre fui um apaixonado por microfone, embora minha timidez e outros caminhos que me surgiram não me tenham permitido seguir essa carreira... mas ficava horas "aperuando" pelos estúdios, que funcionavam vizinho à serralharia de Zé de Duquinha, acompanhando os movimentos de locutores e controlistas, e me deliciando com aquele trabalho e com as músicas da época...
Francisco Samuel do Amaral, 70 anos, é natural da cidade de São Caetano-PE, pai de 22 filhos – frutos de diversos relacionamentos, é avô e bisavô. Recentemente, ouvindo uma rádio de Santa Cruz, surpreendi-me com o vozeirão de Francisco Amaral apresentando um programa de músicas antigas. Disseram-me que continua gritando quadrilha, como só ele sabe fazer... Aliás, foi o homenageado do São João, no ano de 2009.
Fernando Aragão foi o autor do Título de Cidadão em 2009
 
Soube também que, por indicação de Fernando Aragão, nesse mesmo ano, a Câmara Municipal concedeu-lhe o título de Cidadão Santacruzense. É justa a homenagem, embora eu tenha reservas a esse lance de título de cidadão: acho que nem o Legislativo Municipal está aí para isso, nem também chega a ser uma grande homenagem, uma vez que se banalizou esse título (para terem uma ideia, até uma apresentadora de programas de misses, na década de setenta, chamada Carmem Tovar [alguém já ouviu falar?] foi agraciada com a "nobre" homenagem). Amaral é cidadão santacruzense, sim, na prática, pelo seu valor e pelos serviços prestados a sua gente e a seu povo.

Os herdeiros do talento: Fernando e Fabiano Amaral
 
Como herança, Francisco Amaral vê sua obra tendo continuidade em dois de seus filhos, Fernando e Fabiano Amaral, que, nos passos do pai, são detentores de vozes potentes e talento ímpar na locução, e, assim como o genitor, atuam no ramo de comunicação em Santa Cruz do Capibaribe.

FONTE: SULANCA NEWS

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