sexta-feira, 6 de maio de 2011
Boato de enchente causa tarde de pânico no Recife
O Recife viveu uma tarde de pavor por conta de boatos de uma grande enchente que ocorreria nesta quinta-feira (05). Colégios fecharam as portas mais cedo, algumas repartições públicas decidiram encerrar as atividades antes do horário previsto e até um shopping na Zona Norte fechou preventivamente no meio da tarde e liberou os funcionários. O trânsito ficou caótico e muitas pessoas que estavam em ônibus decidiram deixar o veículo e seguir a viagem a pé.
Entretanto, a Defesa Civil do Recife (Codecir), explicou, por meio de uma nota, que não orientou o fechamento de qualquer estabelecimento comercial, escolas ou unidades de saúde por causa da elevação do nível do Rio Capibaribe. “A decisão de encerramento antecipado do expediente coube única e exclusivamente a esses estabelecimentos”, explicou o documento.
De acordo com o major Cássio Sinomar, coordenador-executivo da Coordenadoria de Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe), apesar o aumento no volume das barragens de Tapacura e de Carpina, a situação não preocupa. “Não há nenhum indicativo de que ocorra uma enchente. Tapacurá está vertendo, como todo ano, e Carpina trabalha com um nível mais elevado. Por isso, liberamos água dessas barragens, para ela trabalhar com um nível mais baixo. Mas esse é um procedimento normal. Fizemos isso na Semana Santa e não houve nenhum problema”, explicou.
Ainda segundo o major, com a liberação dessas águas, aliada a um pico de maré, pode provocar cheia em algumas áreas ribeirinhas. “Não há razão para pânico. O que a Codecipe orienta é que as pessoas que não conhecem suas áreas, liguem para a defesa civil da sua cidade e procure informações. Eles tem esse mapeamento das áreas onde há possibilidade de cheia. Mas, não existe razão para pânico”, destacou.
Até o governador Eduardo Campos foi para uma rádio tentar tranqüilizar a população. “A situação neste momento é a mera alta. Então, o rio cheio, canais cheios também com águas que descem e, em alguns canais, não tendo para onde a água ir porque o rio está cheio e a maré está alta, então, eles transbordam. Isso não é enchente, é transbordar. Esse boato de enchente foi aumentado com as redes sociais agora”, disse.
Segundo o governador, o Estado conta com técnicos e pessoal qualificado e dedicado trabalhando em tempo integral para garantir a segurança da população. “Podemos afirmar que não há no momento qualquer possibilidade de vivermos um quadro de enchente na Região Metropolitana do Recife, assegurou.
“Se algo de extraordinário estivesse acontecendo, o primeiro a avisar a população seria o Governo. Eu iria para a televisão, para o rádio, ia dizer qual era o problema e quais as providências que precisariam ser adotadas. Nós estamos trabalhando com a verdade e a verdade será sempre a nossa guia nesse momento”, complementou.
O governador pediu ainda à população que confie na atuação do Governo. “Entre o boato que está nas ruas e o que o Governo está dizendo, fiquem com o que os técnicos do Governo estão dizendo. Não tem nada de enchente, não tem nenhum problema com barragem”, assegurou.
O boato tomou conta das ruas e das redes sociais. A Universidade Católica de Pernambuco suspendeu as aulas, assim como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“A Reitoria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) decidiu suspender suas atividades no final da tarde de hoje (5) devido aos alagamentos que estão ocorrendo na Região Metropolitana do Recife, dificultando, inclusive, o deslocamento das pessoas. Desta forma, o expediente da tarde se encerra mais cedo e as aulas da noite estão suspensas. O Restaurante Universitário também não funciona no período da noite. Estão mantidos os serviços essenciais”, disse a nota.
O Shopping Plaza também decidiu fechar as portas às 15h30. “Diante da previsão de fortes chuvas, para preservar os clientes e funcionários de maiores transtornos, o Plaza Shopping encerrará suas atividades excepcionalmente hoje, às 15h30. Amanhã abriremos normalmente”, alertou o documento.
BARRAGEM DE CARPINA
O secretário de Recursos Hídricos de Pernambuco, João Bosco de Almeida, explica o trabalho realizado na barragem de Carpina.
"O que precisamos foi fazer o esvaziamento da barragem de Carpina que pegou muitas águas nesses três dias e estava alterando a carga na sua capacidade máxima e, coincidentemente agora na maré alta, dois ou três canais transbordaram, e o boato ainda aumentou. Então, quero dar tranqüilidade, pois a alteração na barragem de Carpina está rigorosamente dentro do que planejamos”, afirma.
Ele diz que não há motivos que justifiquem o fato de escolas e faculdades terem suspendido as aulas por causa do boato. “Isso só traz transtornos para Pernambuco, pois o Recife, em particular, tem histórias de cheias muito traumáticas para a sociedade.
Não podemos fechar uma escola porque alguém disse que tinha um problema. Quem deve falar sobre esse assunto, para a tranqüilidade, é o Governo de Pernambuco, a Secretaria de Recursos Hídricos e a Defesa Civil que estão juntos 24 horas por dia”, diz.
João Bosco de Almeida explica como ocorre o trabalho de controle e monitoramento dos rios, das chuvas e das barragens. “Temos uma equipe reunida avaliando esses dados, passando informações à Codecipe e dando alertas quando necessário. Estamos gerenciando a situação, que está totalmente sob controle. O comportamento do Capibaribe hoje (quinta-feira) foi rigorosamente dentro do que planejamos. Pedimos então à sociedade que ouça a Codecipe, que está junto conosco a postos para dar qualquer alerta que seja necessário”, conta.
BOATO EM 1975
O boato que provocou medo esta tarde, no Recife, fez muita gente lembrar um episódio semelhante que ocorreu em 1975. Entre os dias 17 e 18 de Julho daquele ano, um enchente deixou 80% do Recife sob as águas. Outros 25 municípios banhados pelo rio Capibaribe também foram atingidos. Ao todo, morreram 107 pessoas e outras 350 mil ficaram desabrigadas. O governador da época, Moura Cavalcanti, decretou estado de calamidade pública na capital e em nove municípios do interior.
Na manhã do dia 21, as águas baixaram e a população começava retomar a vida, foi quando o pânico voltou a tomar conta das ruas do Recife. Tudo provocado por um boato de que a Barragem de Tapacurá havia estourado e que a cidade seria arrasada.
Ainda pela manha, uma multidão corria de um lado para outro sem saber aonde ir; mulheres desmaiavam; os carros não respeitavam sinais nem contra-mão; guardas de trânsito abandonavam seus postos; várias pessoas foram atropeladas; bancos, casas comerciais e a agência central dos Correios fecharam as portas; no Hospital Barão de Lucena várias pessoas pularam do primeiro andar; enquanto o boato se espalhava de boca em boca.
As emissoras de rádio passaram imediatamente a divulgar insistentes desmentidos. A Polícia Militar divulgou nota oficial informando que prenderia quem fosse flagrado repetindo o alarme. A Polícia Federal anunciou que estava investigando a origem (nunca descoberta) do boato. Tudo para tentar acalmar a população. O pânico durou cerca de duas horas, mas seu momento de maior intensidade teve cerca de 30 minutos. Mais de 100 pessoas foram atendidas nos serviços de emergência dos hospitais.
Da Redação do pe360graus.com
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