terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Uma cidade com medo de um homem AGRESTE // População de Casinhas viu tranquilidade acabar após a morte de um comerciante em outubro passado


Em Casinhas, a 131 quilômetros do Recife, não se fala em outra coisa nas praças, em casa, nos bares. Mesmo que
Moradores do município, que tem pouco mais de 14,6 mil habitantes, temem ser a próxima vítima. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press - 11/8/04
de forma velada, lá estão as pessoas comentando sobre o mesmo assunto. No município do Agreste pernambucano, os habitantes viram a rotina de cidade tranquila se transformar. Alguns têm medo de ser a próxima vítima. A reviravolta tem nome e na polícia é procurado como Cláudio Pereira, 24 anos, que ganhou fama na pequena cidade de pouco mais de 14,6 mil habitantes, onde o número de homicídios não chegou nem a dez no ano passado. Na mira da polícia por acusação de assaltos e homicídio, Cláudio já tem a foto espalhada em cartazes até em municípios vizinhos, como Surubim.

No centro de Casinhas, que ferve com o clima quente, já é possível perceber que algo está fora do lugar. É final da manhã e uma dupla de policiais militares dá conta da segurança do espaço, algo raro de se ver nas cidades mais distantes da capital, conhecidas pela tranquilidade.

Segundo o comissário Ionildo Amorim, com vasta experiência em outras unidades policiais da Região Metropolitana do Recife, Cláudio, que é natural de Casinhas, é acusado de vários assaltos a comerciantes. E, em outubro do ano passado, teria assassinado um lojista da cidade que reagiu durante um assalto. "Ele costumava atuar com um comparsa conhecido como Chapeu de Couro. Mas esse já está morto. Cláudio também está sendo cercado pela polícia", avisa o comissário.

Nem mesmo nas comemorações públicas do município as pessoas ficam tranqüilas, como aconteceu na Festa de São Sebastião, no início do mês. Na época do latrocínio, Cláudio teria dito que tinha outras pessoas na lista de vítimas. O boato até hoje não se confirmou, mas motivou até mesmo a mudança de alguns moradores para cidades vizinhas. Segundo a polícia, ele vive escondido na área de caatinga.

Oratório é o nome do bairro nobre de Casinhas, município onde falta emprego e sobram pessoas à espera de uma oportunidade. Localizado na partemais alta da cidade, fica na divisa com o estado da Paraíba. Oratório tem uma rua só, chamada Avenida Liberdade. Agora a violência também inquieta seus habitantes.

Fechamento - A aparente fartura do lugar, onde a maioria dos moradores vive de pecuária ou de comércio local, teria chamado a atenção de assaltantes. De cinco anos para cá, os comerciantes contam que adiantam a hora de fechamento do negócio e ao invés das 22h, como era comum, encerram expediente às 20h. Da mesma forma, avisam que passaram a abrir as portas mais tarde também.

Oratório ficou conhecido na região como um lugar de gente muito trabalhadora. Ao contrário do pequeno centro de Casinhas, lá é difícil ver alguém sentado na rua em pleno horário de serviço por falta de emprego. "Estão todos sempre ocupados. Aqui o povo acorda cedo para trabalhar e dorme cedo também", conta a comerciante e pecuarista Josefina Barbosa Camelo, 63 anos, que mora no lado pernambucano. A aparente fartura da população teria chamado a atenção de criminosos.

Comerciante de queijo coalho, Estácio Correia de Albuquerque, 49, mora no pedaço paraibano de Oratório, mas conta que é como se fosse um pernambucano. Ele diz que a violência é novidade no lugar. "Há vinte anos era uma tradição sair dos sítios e vir para cá, como se aqui fosse a cidade. Mas agora tem energia elétrica em todo canto e o pessoal também evita ficar até mais tarde na praça", lembrou, saudoso.

O comissário Amorim afirmou, no entanto, que não tem conhecimento de assaltos praticados no bairro de Oratório. "Ninguém veio prestar queixa na delegacia desse assunto. Que eu saiba aquele bairro é muito tranqüilo", garantiu. Apesar do medo, a polícia garante que o último crime de Cláudio foi o latrocínio que vitimou o comerciante, em outubro. Além disso, depois da morte do comparsa, assassinado em Escada, ele teria dado um tempo nas ações criminosas, garante o delegado. Marcionila Teixeira // Diario

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