quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Imagens mostram covas rasas em mata na Zona Leste de SP


Imagens feitas pela Polícia Civil mostram o momento em que covas rasas foram encontradas em uma mata de Cidade Tiradentes, no extremo da Zona Leste de São Paulo. Cinco corpos foram localizados.
De acordo com o delegado Antônio Carlos Heib, titular da 4ª Delegacia de Crimes contra o Patrimônio do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), elas ficavam distantes cerca de 500 metros umas das outras.
Em cada uma delas, havia apenas um corpo. "Depois do debate, alguém ia até o local, onde era feita a cova. Fico imaginando a pessoa que foi condenada sendo conduzida no meio da noite e sendo morta. É muita frieza por parte dessas pessoas", afirmou o delegado. Policiais que participaram das investigações fizeram as imagens durante a operação.
O delegado disse acreditar que há mais vítimas dos "tribunais do crime" enterradas nestas matas. No entanto, ele afirmou que considera difícil obter a localização destas covas rasas. as possíveis vítimas são dadas como desaparecidas e o caso continuará a ser investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa.

"Essas pessoas desaparecem, literalmente. Acredito que haja mais covas lá (na mata), mas é difícil localizá-las", declarou. Segundo o delegado, que concedeu entrevista na sede do Deic na tarde desta terça-feira (19) sobre o caso, também não é possível afirmar que as vítimas eram criminosos ou que tinham alguma ligação com os seus assassinos. "São pessoas que, de alguma forma, foram contra a 'lei' que eles estabelecem. Por isso, não há como dizer se as vítimas são criminosas ou não", disse.
A investigação teve início há 60 dias. As vítimas foram mortas nos chamados “tribunais do crime”. Quatro suspeitos foram presos e a polícia acredita que outras quatro pessoas participaram das mortes. Além disso, um fuzil foi apreendido.
Uma das vítimas, por exemplo, foi morta depois de arrumar confusão em uma festa, de acordo com o delegado. "Eles iam para o 'debate' e discutiam o que ela fez. A própria pessoa se defendia. Uma delas começou a beber em uma festa e se engraçou com uma garota que era namorada de um integrante da quadrilha. Depois, continuou bebendo até ficar alto. Ele sacou uma arma e atingiu uma pessoa da facção. Levaram ele para o debate e ele teve a sua morte decretada", afirmou. Os presos relataram ao delegado que houve ao menos uma absolvição e que existia a possibilidade da aplicação de 'pena' alternativa.
O grupo foi detido entre final de setembro e o início de outubro em diversos bairros da Zona Leste. As investigações só puderam ser divulgadas nesta segunda-feira (18), segundo a polícia. O Instituto Médico-Legal (IML) ainda tenta identificar as vítimas.
Uma apuração de roubo a condomínio teve desdobramento para tráfico de drogas e acabou revelando o esquema desenvolvido por uma facção criminosa para fazer justiça com as próprias mãos. Ainda de acordo com a polícia, a cova era cavada na frente da vítima enquanto ela é acusada.
As execuções eram realizadas de diferentes formas. Em pelo menos um caso, foi possível identificar que uma vítima foi morta com um golpe de picareta na cabeça, segundo o delegado. Em outro, ela foi enforcada com um fio de náilon. "Eles não utilizavam armas de fogo para não chamar a atenção dos moradores da região", disse Heib.
De acordo com o delegado, os corpos das vítimas estavam em avançado estado de putrefação. "Estimamos que a execução mais recente foi há seis meses, pelas condições do corpo. Em um dos deles, por exemplo, é possível ainda identificar uma tatuagem nas costas", disse.
A frieza dos criminosos nos "julgamentos" e nas execuções impressionou o delegado. "São pessoas que não dão valor à vida, condenar outras pessoas assim à morte. É muito triste."

Marcelo Mora
Do G1 SP

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