segunda-feira, 3 de agosto de 2009

O CRACK É O PAI DOS ÓRFÃOS


Já faz um bom tempo que eu não me pronunciava por escrito. Mas, em razão da boa entrevista que li no Jornal Mundo Jovem (edição julho de 2009) com Manoel Soares, jornalista e integrante da CUFA (Central Única das Favelas), resolvi me queixar.
O tema da entrevista é o crack, droga que está fazendo o maior sucesso entre a rapaziada aqui em Santa Cruz do Capibaribe, a ponto de uma autoridade do município, afirmar que temos quase 200 bocas.
Soares classifica o crack como o calcanhar de Aquiles de uma sociedade falida. Inicialmente, consumido, sobretudo, pelo usuário de baixa renda – já que é uma droga barata –, o crack, hoje, já atinge as demais camadas sociais, fragilizando famílias e provocando a destruição de lares e do futuro da juventude.
É necessário dizer que, apesar dos danos causados por ele, assim como outras drogas (lícitas ou ilícitas), o crack gera um prazer momentâneo muito intenso no corpo humano. Assim, leva o usuário a preencher o vazio da alma, principalmente, entre outros fatores, daqueles que são órfãos de pais vivos.
Na busca desenfreada por bens materiais, os pais tem se esquecido de dar a atenção necessária ao desenvolvimento dos filhos, criando-os com pouca, ou nenhuma, relação afetiva e sem se importar com a existência deles, porque não tem tempo pra eles. Proporcionam-lhes bens materiais, mas o afeto é negligenciado.
Precisamos voltar atrás e rever os nossos valores. Perguntar sempre: Como é que estou educando meu filho? Como se encontra o meu relacionamento com ele/ela?
A família, ainda, é a instituição capaz de produzir base psicológica e emocional para o jovem. Contudo, se a nossa relação for construída na base do consumo, o carinho e o afeto forem substituídos pelo celular de última geração, pela moto nova (mesmo que ele não tendo idade para pilotar) ou por outro objeto qualquer como formas de compensação da nossa ausência, estaremos industrializando as nossas relações humanas. “Aí, meu velho” não haverá saída! O menino ou a menina acostumados a industrializar as suas sensações, poderão satisfazer-se através do cracK.


Moisés Américo é professor de Sociologia e Geografia da Rede Pública e Particular.

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