quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Após 'barriga de aluguel', mãe vai passar primeiro Natal com gêmeos


Casada há cinco anos, Eliana Oliveira Orr, 35 anos, vai passar seu primeiro Natal ao lado dos filhos Otávio e Sophia, de quase 3 meses. A realização do sonho de se tornar mãe, no entanto, só foi possível graças a sua irmã, Angélica Oliveira de Souza, 30 anos, que “emprestou a barriga” para a geração dos sobrinhos.
“Eu sempre soube que não poderia ser mãe, porque menstruei uma única vez, aos 13 anos. Fiz muitos tratamentos, mas não funcionou, então achava que a única alternativa seria adotar uma criança.” Eliana mora nos Estados Unidos com o marido, mas queria que os filhos que adotasse fossem brasileiros. “Encontrei dificuldades porque queria adotar no Brasil e voltar a morar nos Estados Unidos, então não foi possível”, diz a dona de casa.
A ideia da “barriga de aluguel” foi iniciativa de Angélica. “Quando eu tive meu primeiro filho, eu era muito menina, tinha 19 anos, e ela sempre esteve comigo. Sempre vi o quanto ela queria ser mãe e ela me ajudou em todos os momentos da minha vida. Quando ela disse que não poderia ter, vi os sonhos dela e tinha que fazer alguma coisa. Conversei com meu marido, falei que queria fazer, e ele concordou. Decidimos, mas ela não quis”, conta Angélica, que tem dois filhos, de 4 e 7 anos.
Eliana achou a ideia da irmã uma loucura e, inicialmente, não aceitou a proposta. Até que veio passar o Natal do ano passado no Brasil e ganhou um presente inusitado. “Ela veio com uma caixinha de presente que tinha um par de sapatinhos de bebê. Disse que queria muito fazer, que já tinha convencido meu marido, o marido dela também apoiou. Então me entreguei”, afirma Eliana.
Durante a gravidez da irmã, Eliana viajava entre os Estados Unidos e o Brasil com frequência, para acompanhar Angélica e para visitar o marido. No dia do nascimento das crianças, em setembro, ela estava no Brasil e acompanhou o parto.
“É uma coisa louca porque eles não saíram de mim, mas são meus. Não consigo explicar em palavras. Na hora do parto eu estava preocupada com a saúde dela e dos bebês e só caiu a ficha quando eu fiquei sozinha com eles. Foi super emocionante. De vez em quando ainda os chamo de sobrinhos, mas acho que as coisas vão caminhar com o tempo”, diz a mãe.
Acompanhamento psicológico
O ginecologista e obstetra Aléssio Calil Mathias, especialista em reprodução humana e diretor do Instituto de Ciências em Saúde e da Genics Medicina Reprodutiva e Genômica, explica que em um processo de “barriga de aluguel” o acompanhamento psicológico de todas as pessoas envolvidas é fundamental.
“A gente conduz a paciente a uma psicóloga e é muito importante que a mãe receptora seja a principal pessoa a se oferecer para o procedimento, para que não haja indução. É claro que é bastante complicado para a doadora, mas a melhor forma de pensar é que você é uma tia-mãe”, afirma. O especialista destaca que a legislação brasileira não permite a "barriga de aluguel" em troca de dinheiro, e só parentes diretos, ou seja, irmãs e mães podem se oferecer para o procedimento.
Para Angélica, a gestação foi um processo complicado. “Eu falo que vivi por etapas. A barriga vai crescendo e o amor vai aumentando, e eu tive medo de sentir esse amor. Falava comigo mesma que seriam meus sobrinhos, mas ainda assim foi difícil. O pior momento foi após o parto, quando tive que entregar as crianças”, conta.
O sacrifício valeu a pena. “Eles são os meus melhores presentes, tudo o que eu mais queria. Ainda não processei tudo, me pego vacilando, mas não consigo viver sem eles. Meu Natal vai ser diferente. Não tem nada que minha irmã possa me dar que seja melhor do que esses presentes”, diz Eliana, que vai passar o Natal nos Estados Unidos, ao lado da família do marido.
Sonho caro
A dificuldade para engravidar é mais comum do que se pensa. Segundo Mathias, em média, 15% das mulheres têm problemas para engravidar. Dessas, cerca de 5% têm problemas irreversíveis.
Em casos irreversíveis, quando opta-se pela "barriga de aluguel", a chance de êxito do procedimento fica, segundo o especialista, em torno de 45% e 55%. Apesar de tentadora para mulheres que não podem engravidar, a opção não cabe em todos os bolsos. O custo do medicamento necessário fica entre R$ 2 mil e R$ 6 mil, e o procedimento da fertilização em si chega a custar R$ 15 mil.

Nathália Duarte
Do G1, em São Paulo

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