quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Invasor que rasgou notas da apuração está arrependido, diz advogado
Tiago Ciro Tadeu Faria, preso pela Polícia Militar sob a suspeita de ter invadido a área restrita da apuração do carnaval de São Paulo no Anhembi, roubado os papéis com os resultados e fugido na tarde de terça-feira (21), está arrependido do que fez. A informação foi dada ao G1 nesta quarta-feira (22) pelo advogado da Império da Casa Verde, Eduardo Moraes, que também está defendendo os interesses do vendedor de carros. Sua defesa pretende entrar com um pedido de liberdade provisória diretamente a um juiz do Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo), no Fórum da Barra Funda, Zona Oeste da capital paulista.
O suspeito usava uma camiseta com o nome da Casa Verde, uma das concorrentes, no momento em que estava numa área reservada à diretoria da escola de samba, e pulou uma cerca de proteção e tomou os documentos do locutor do evento. Câmeras de TV e fotógrafos chegaram a registrar a imagem do homem sentado junto à mesa da presidência da agremiação. Também o flagraram pulando um cercado e rasgando e roubando os documentos da mesa.
Apesar disso, seu defensor alega que Tiago não pertence à diretoria da Casa Verde. “Ele é apenas um componente da escola, um fã. Me parece um torcedor apaixonado que está muito arrependido do que fez. Ao menos foi isso o que ele me falou após ser preso”, disse o advogado Eduardo Moraes na manhã desta quarta. Segundo ele, seu cliente não quer falar com a imprensa sobre o caso.
Sentado à mesa da diretoria
Mesmo com a posição da escola em negar qualquer envolvimento de Tiago com sua diretoria, a Polícia Civil investiga a suspeita de que Tiago pertença à cúpula da Casa Verde. Isso porque ele apareceu ao lado de dirigentes sentado na mesa durante a apuração.
Questionado a esse respeito, o advogado da agremiação que está defendendo Tiago respondeu que o vendedor se sentou ali sem autorização da direção da escola. “Ele me contou que conseguiu passar pelo alambrado e acompanhou a apuração pela parte interna. Não tem qualquer ligação com a diretoria”, disse Moraes.
Pelo regulamento da Liga das Escolas de Samba de São Paulo, a Casa Verde poderá ser punida com a expulsão das próximas competições caso fique comprovado que Tiago seja integrante da diretoria da agremiação.
Tiago foi indiciado na Delegacia Especializada no Atendimento ao Turista (Deatur) por supressão de documentos e dano ao patrimônio público. Indagado sobre o que seu cliente tem a dizer a respeito das acusações atribuídas a ele, o advogado afirmou que ele confessou a primeira acusação e negou a segunda. “Ele alega que quando começou o tumulto generalizado, ele teve o ímpeto de invadir o local reservado a divulgação das notas da apuração porque não concordava com o resultado que estava sendo anunciado. Falou que foi algo impensado, que não teve nada combinado”, afirmou Moraes.
O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, titular da Deatur, apura, no entanto, a suspeita de que a invasão possa ter sido combinada. Segundo ele, Tiago declarou em seu depoimento que só invadiu a área restrita porque a Liga teria descumprido um acordo com as escolas. “Ele contou que estava revoltado, que havia um acordo numa reunião entre os diretores das agremiações e o presidente da Liga [Paulo Sérgio Ferreira] para que nenhuma escola caísse depois que dois jurados foram trocados. Ele contou que esse acordo não estava sendo cumprido e invadiu o local com outras escolas”, disse.
O G1 não conseguiu localizar o presidente da Liga para comentar o assunto.
Invasor é conhecido da polícia
Segundo seu advogado,Tiago já teve passagens na polícia por suspeita de furto, receptação, formação quadrilha, porte de arma e dano ao patrimônio público. “Ele tem um processo por furto em 2001, no qual ficou preso e respondeu a um inquérito por receptação em 2004, quando foi condenado a pagamento de multa para ficar solto.”
Policiais civis afirmaram ao G1 que Tiago já cumpriu três meses de prisão por furto, formação de quadrilha, porte de arma e receptação.
De acordo com o site do Tribunal de Justiça de São Paulo, Tiago já respondeu por receptação em 2002 na área do 38º Distrito Policial, na Vila Amália. Ele foi julgado pela 14ª Vara Criminal da Barra Funda em São Paulo. A pena foi convertida em multa.
Segundo a polícia, em 2004, ele foi indicado num caso de ataque a caixa eletrônico de um posto de gasolina na Avenida Nações Unidas, na região de Santo Amaro, Zona Sul da capital paulista. Teria sido detido com três outros homens pela Polícia Militar após uma denúncia. Com o grupo foram apreendidos cilindros metálicos e chaves de fenda.
Pedido de liberdade e expulsão
O advogado Moraes afirmou que pretende entrar com um pedido de liberdade provisória para Tiago na tarde desta quarta no Dipo. O pedido também terá de ser levado ao conhecimento de um promotor do departamento.
Apesar disso, o vice-presidente da Casa Verde, Paulo Ferreira, afirmou que Tiago não poderá mais participar da escola. "Agora ele é persona non grata aqui", disse Ferreira.
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) informou que o fórum deverá abrir para atendimento após o meio-dia desta quarta. A equipe de reportagem não conseguiu localizar a assessoria do Ministério Público para comentar o assunto.
O delegado da Deatur afirmou ainda que analisa imagens de TV para tentar identificar outros integrantes das concorrentes que participaram da invasão à mesa de divulgação das notas. Haviam membros com o uniforme da Camisa Verde e Branco no local. O G1 não conseguiu localizar os dirigentes dessa escola para falar.
Corintiano preso é suspenso
Além de Tiago, Cauê Santos Ferreira, de 20 anos, identificado pela polícia como integrante da escola Gaviões da Fiel, também foi preso pelos mesmos crimes atribuídos ao membro da Casa Verde.
Em entrevista ao G1, o advogado da Gaviões, Davi Gebara, afirmou que Cauê não é membro da diretoria da agremiação e sim um associado que teve autorização para acompanhar a apuração na área reservada aos dirigentes. Ele também disse que está defendendo os interesses do preso.
“Cauê é membro da Gaviões. É um associado. Pelo pouco que vi das imagens, e pelo que os componentes da Gaviões disseram ele não aparece nas imagens cometendo qualquer crime. Ele estava no meio do entrevero. Ele não mexeu em documentos. Ele nega a autoria da autoria também do dano ao patrimônio. Ele é trabalhador, réu primário. Está fazendo curso de desenho técnico. Foi uma infelicidade. Na hora do tumulto, ele viu que pessoas saíam pela esquerda. Ele pulou o alambrado no intuito de sair do tumulto”, disse o advogado Davi Gebara, que também deve entrar com um pedido de liberdade provisória para seu cliente no Dipo, no Fórum da Barra Funda.
Apesar de até o momento nenhuma imagem ter surgido mostrando Cauê roubando documentos relacionados às notas, a Gaviões da Fiel decidiu suspendê-lo preventivamente até o final da apuração dos fatos pela polícia. “A priori ele é inocente. A medida de afastá-lo é praxe”, disse Gebara.
Os dois presos foram transferidos na manhã desta quarta da carceragem do 2º DP, no Bom Retiro, para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo.
Kleber Tomaz
Do G1 SP
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