quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

PM suspeito de balear surfista em SC pode ser excluído da corporação

Ricardo dos Santos (Foto: Instagram de Ricardo dos Santos/Reprodução)Ricardo dos Santos era conhecido mundialmente por ser especialista em ondas grandes e tubulares (Foto: Instagram de Ricardo dos Santos/Reprodução)
O policial militar Luis Paulo Mota Brentano, de 25 anos, suspeito de balear com três tiros o surfista catarinense Ricardo Santos, 24, que morreu na tarde desta terça-feira (20), pode ser excluído da corporação, segundo o comandante-geral da PM, coronel Paulo Henrique Hemm. Ele é o principal suspeito de ter cometido o crime e, em depoimento à Polícia Civil, o agente confessou ter efetuado os disparos. Ele vai ser transferido ainda nesta terça para seu batalhão de origem, o 8º BPM em Joinville, no Norte do estado.
Parentes e amigos de Ricardinho lamentaram em frente ao hospital (Foto: Renan Koerich/GloboEsporte.com)Parentes e amigos de Ricardinho lamentaram
em frente ao hospital
(Foto: Renan Koerich/GloboEsporte.com)






"Não estamos medindo esforços na apuração, haja vista que logo em seguida do fato quando a polícia foi acionada, chegaram ao local, houve a prisão, foi conduzido à Delegacia de Polícia, onde, já de imediato, foi feito o flagrante e está sendo conduzido o inquérito policial. Isso vai nos apoiar para a realização do processo administrativo disciplinar, que poderá findar com a exclusão desse policial das fileiras da corporação", disse Hemm sobre o soldado que está há seis anos na corporação.
Ricardinho, como é conhecido pelos amigos, levou três tiros entre o tórax e o abdômen, na manhã de segunda-feira (19), após um desentendimento com o policial, que estava acompanhado do irmão, menor de idade. O surfista morreu às 13h10 desta terça, no Hospital Regional de São José, na Grande Florianópolis. Ele passou por quatro cirurgias - três delas na segunda -, mas não resistiu aos ferimentos. Durante os procedimentos feitos na segunda, que duraram cerca de sete horas, ele recebeu 24 litros de sangue. No dia seguinte, pela manhã, uma nova operação foi realizada para estancar uma nova hemorragia, mas o jovem não resistiu aos ferimentos e morreu horas depois.
Ricardo dos Santos (Foto: Instagram de Ricardo dos Santos/Reprodução)Ricardo dos Santos morava na Guarda do Embaú
(Foto: Instagram Ricardo dos Santos/Reprodução)






O inquérito da PM deve ser concluído em 20 dias. Já a investigação da Polícia Civil tem até 30 dias para ser finalizada. Conforme a PM, Bretano respondeu por outros processos criminais e foi absolvido em todos.
De acordo com o delegado responsável pelo caso, Marcelo Arruda, será solicitada a mudança da tipificação do crime de tentativa de homicídio para homicídio doloso (quando há intenção de matar) qualificado, alteração que ainda deve ser analisada pela promotoria de Justiça.
O comandante-geral da PM afirmou que o policial deveria ter agido dentro dos preceitos legais da corporação mesmo estando sem farda ou de férias. "Ele teria que se identificar, procurar ver o que estava acontecendo, se tinha algo que fugia aos padrões e tentar resolver da melhor forma possível", declarou Hemm.
Ricardinho era reconhecido mundialmente como especialista em ondas pesadas e tubulares. A família pretendia cremar o corpo e jogar as cinzas no mar da Guarda do Embaú, em Palhoça, na Grande Florianópolis, mas, devido à dificuldade nos trâmites para emissão da escritura de cremação, os familiares decidiram realizar o enterro, nesta quarta-feira (21). O velório deve começar, por volta das 22h30 no salão paroquial da igreja da Guarda do Embaú.
Suspeito de matar Ricardinho, Luis Brentano é da PM de Joinville (Foto: Reprodução/Facebook)Suspeito de matar Ricardinho, Luis Brentano é da
PM de Joinville (Foto: Reprodução/Facebook)






Versões
Em depoimento na segunda, Brentano afirmou que atirou em legítima defesa, já que a vítima estaria com um facão. "Disse que a vítima teria tentado agredir e que ele teve que se defender", afirmou o delegado Marcelo Arruda. O menor de idade que acompanhava o PM na hora do crime e seria seu irmão contou a mesma versão. Ele foi ouvido como testemunha e liberado pela polícia.
No entanto, segundo Arruda, os policiais militares que atenderam a ocorrência não apreenderam nenhum facão no local dos disparos. Já a arma e o carro do policial foram encaminhados para o Instituto Geral de Perícias (IGP).
Além de ouvir os PMs que foram ao local do crime, a Polícia Civil também colheu depoimento do avô e de um tio de Ricardinho, que afirmaram não ter havido nenhum tipo de agressão que motivasse os disparos, segundo Arruda.
O PM estava em férias no dia do crime. Segundo a tenente-coronel Claudete, um policial tem direito a permanecer com porte de armas mesmo em recesso.
Testemunhas
Testemunhas do crime contaram à polícia que, por volta das 8h30 de segunda, Ricardinho e o avô dele, Nicolau dos Santos, estavam se organizando para começar o conserto de um cano que traz água do morro e abastece as casas da família.
Um carro estava parado sobre o ponto onde o cano passa. O surfista teria pedido aos dois ocupantes para que o automóvel fosse tirado dali, mas um deles teria reagido de forma agressiva.
O morador da Guarda do Embaú Mauro da Silva relatou que o policial disse "quem manda aqui é nós". "No exato momento, eu cheguei junto e o Ricardo falou 'como quem manda aqui é nós se eu nasci aqui, nunca vi vocês aqui'. Eu cheguei e falei 'não, cara, é melhor vocês saírem'".

O atleta ainda tentou fugir, mas foi atingido por mais um tiro nas costas, conforme testemunhas.
Segundo os moradores não houve uma discussão forte e, quando todos achavam que o motorista estava saindo com o veículo, o policial sacou uma pistola e atirou duas vezes contra Ricardo.
Outra versão de testemunhas afirma que o policial e o irmão estariam consumindo drogas na frente da casa do surfista, que pediu para eles saírem do local. Teria havido uma discussão e os tiros. O inquérito policial deve indicar o que realmente aconteceu.
Para a PM, as versões sobre o crime ainda estão contraditórias quanto ao suposto uso de drogas. "Foi o próprio soldado que solicitou o exame toxicológico. Ele confessou que teria ingerido álcool na noite anterior, mas não outras drogas", disse a tenente-coronel Claudete.
O resultado do exame será encaminhado à delegacia de Polícia Civil e depois compartilhado com a Corregedoria Militar, responsável pelo inquérito militar.
Mãe do surfista Ricardo dos Santos é amparada em Palhoça, SC (Foto: Betina Humeres/Agência RBS)Mãe do surfista Ricardo dos Santos é amparada em Palhoça, SC (Foto: Betina Humeres/Agência RBS)


Do G1 SC

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