segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bono Vox de Caruaru se prepara para ver o xará cantar no Brasil


Bono Vox tem 16 anos, vive em Caruaru (PE) e cursa o ensino médio em uma turma de 48 alunos. Às vezes tem que explicar aos colegas que são “mais da praia do forró” qual o significado de seu nome. “Já teve uma menina que perguntou se me chamo Bono por causa daquela marca de biscoito”, recorda o jovem. “Mas sempre levo na boa e explico que sou xará do vocalista do U2. Apresento os discos e, se a pessoa gosta, saio ganhando”.

Bono Vox Siqueira dos Anjos foi assim batizado porque seu pai, o auditor Helder José dos Anjos, 44, é um fã apaixonado pelos hits do U2 desde o surgimento do grupo irlandês, em 1976. Na próxima quarta-feira (13), pai e filho estarão no Estádio do Morumbi, em São Paulo, para assistir a última das três apresentações que Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr. farão em São Paulo.

“Da última vez que o U2 veio ao Brasil meu filho era muito pequeno, não tive como levá-lo. Justamente nesse show o Bono convidou um menino para subir ao palco e era uma criança aqui de Caruaru”, recorda Helder, referindo-se à passagem da banda de rock pelo país em 2006, ocasião em que o garoto Vitor Santos cantou com o vocalista. “Acho que deve ser um sinal. Quem sabe dessa vez ele não chama o meu Boninho pra cantar?”, torce.

Caruaru x Dublin
Não foi fácil para o auditor convencer a esposa a dar o nome de Bono Vox ao filho. “Minha, nossa! Foram 9 meses de briga. Tive que usar tudo quanto foi argumento...”, relembra.

O principal deles, revela Helder, foi provar à mãe do bebê que o roqueiro era “um cara gente boa”. “Minha admiração não é só pela poesia das músicas do U2. O Bono sempre teve uma conduta ética exemplar. Eu não consigo ver alguém passando dificuldade e não ajudar. Sinto que nesse ponto somos bem parecidos”.

Há ainda outros pontos de identificação entre fã e ídolo, garante o pai do Bono pernambucano. “Na minha juventude eu conhecia o rock inglês, o americano... Mas nunca tinha ouvido falar nesse diabo de lugar chamado Dublin”, explica Helder. “E acho que o Bono deve se sentir como eu. Aqui no Brasil ninguém nunca ouve falar de Caruaru. Sempre é no Rio de Janeiro e em São Paulo que as coisas acontecem”.

Helder diz que a fase dos pôsteres da banda espalhados pela casa "já passou". "Mas teve um tempo em que as paredes eram todas forradas de fotos dos caras. Acho que fiquei meio velho pra isso...", conta o auditor, que diz ter aprendido sozinho a falar inglês pra entender as músicas do álbum "October" (1981) e cita como "clássico" o disco "Achtung baby" (1991).

Mas o fã ainda faz certas extravagâncias pelos ídolos. Em 2003, Helder viajou até Dublin para visitar a Mount Temple Comprehensive - o colégio em que os integrantes do U2 se conheceram e compuseram as primeiras músicas.

"Até hoje eles têm o cartaz que o Mullen [o baterista do U2] grudou no mural anunciando que procurava músicos para formar uma banda", conta Helder. "Foi uma das viagens mais emocionantes que já fiz!".

Pesadelo forrozeiro
O auditor diz que seu “pior pesadelo” seria o filho não “honrar” o nome e virar “forrozeiro ou bregueiro”, que são os ritmos mais ouvidos em seu município.
“Aí, o sujeito ia me matar de vergonha, ia ser muito desgosto... Mas eu soube educar: Desde recém-nascido, o meu Bono só ouve rock do bom lá em casa”.

A tática deu certo. Inspirado pelo rock do U2, Bono virou baterista e toca em uma banda formada pelo pai, a Insanea. “Mas sabe de uma coisa? Até que eu gosto de forró”, diz o garoto. “Mas tem que ser o tradicional, tipo Dominguinhos. Ele é um artista autêntico e tem que ser respeitado”.
O adolescente declara orgulho ao nome que tem e “admira demais” o engajamento do roqueiro irlandês.

Mas, quando é perguntando sobre qual seu grupo favorito, a resposta surpreende. “Adoro o U2, mas o Radiohead é a melhor banda do mundo”, opina o Bono Vox de Caruaru.

Dolores Orosco
Do G1, em São Paulo

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