sábado, 22 de agosto de 2009

Roberto Carlos inaugura temporada em SP com show lotado de hits


Com as luzes do Ginásio do Ibirapuera apagadas na noite desta sexta-feira (21), o primeiro show da temporada de Roberto Carlos em São Paulo começou nas mãos da própria plateia. Munidos de lanternas imitando velas distribuídas na entrada, os fãs transformaram o ginásio em uma bela noite estrelada.

Ainda sem Roberto no palco, a banda RC-9 (reforçada por membros da Orquestra Sinfônica de São Paulo nas cordas) atacou de “Como é grande o meu amor por você”, cantada pelo casal responsável pelos backing vocals ao longo do show.
O grupo entra em um medley, emenda “É preciso saber viver” e volta a “Como é grande...”. Só então, após uma pausa, o Rei sobe ao palco, todo de branco, para cantar “Emoções”. E o público canta junto, como se cumprimentasse o ídolo na mesma moeda: “Mas eu estou aqui/ Vivendo esse momento lindo/ De frente pra você/ E as emoções se repetindo”.

Depois da música, ele começa a conversar com a plateia. Agradece aos fãs e aos patrocinadores e confessa: “Meu negócio não é falar. Acho que eu vou dizer mais sobre a minha carreira cantando”, disse, antes de começar “Eu te amo, te amo, te amo”. Showman que é, não cumpriu com tanto afinco a promessa, parando em outras oportunidades para dialogar com o público.



Longevidade

Em termos de longevidade versus qualidade, Roberto Carlos está para a música brasileira assim como os Rolling Stones estão para o rock. Com décadas de carreira, cada um sabe muito bem lidar com as expectativas dos seus fãs e com isso fazer de qualquer show uma apresentação memorável. Ao mesmo tempo nada soa caricato ou falso – ambos sabem muito bem dosar profissionalismo com sinceridade.

Se o Rei não tem (nem nunca teve) a desenvoltura de palco de um Mick Jagger, compensa com seu carisma elegante. A postura é aquela que se tornou sua marca registrada, segurando o microfone com o pedestal inclinado na diagonal enquanto canta.

Além dos sorrisos constantes, ele se comunica com pequenos gestos – aponta para o coração, “conta os dias” com os dedos em “Amor perfeito”, espalma a mão representando os 50 anos de carreira. Em um momento mais íntimo, sentado em um banquinho e de violão em punho, revive a seu modo a clássica “Detalhes”.

O repertório do show de pouco mais de duas horas (começou por volta das 21h20 e acabou às 23h25) repassa toda a carreira de Roberto. Um pot-pourri representa a Jovem Guarda com “É proibido fumar”, “Namoradinha de um amigo meu", “Quando” e a nostálgica “Jovens tardes de domingo”. Antes homenageia o pai e a mãe com “Meu querido, meu velho, meu amigo” e “Lady Laura”, e também toca canções temáticas, como “Caminhoneiro” e “Mulher pequena”.



‘Amores bem-sucedidos’

Para introduzir a triste balada “Do fundo do meu coração” (de versos como “Mas basta agora o que você me fez/ Acabe com essa droga de uma vez/ Não volte nunca mais para mim”), Roberto lembrou das circunstâncias em que compôs a música, lançada em 1986. “Eu sempre quis escrever músicas sobre amores bem-sucedidos. Mas às vezes não dá. Quando eu fiz essa estava complicado”.

Um dos momentos que causou mais frisson foi o bloco de músicas mais “sensuais”, como definiu o próprio cantor. Começando com “Proposta”, o clima vai esquentando com “Os seus botões” e “Café da manhã”, até chegar ao ápice com a quase explícita “Cavalgada”. As luzes diminuem e o telão vira uma noite estrelada, enquanto a banda entra em um arranjo épico, com solos de guitarra, e a iluminação volta a crescer, culminando com um sol no telão – um momento grandioso digno de grupos como o Queen.

Quando Roberto volta a tocar “Emoções” a deixa para o final do show é lançada e o público da pista começa a se levantar de suas cadeiras em direção ao palco. Depois de “Como é grande o meu amor por você”, vem “Jesus Cristo”, fechando o primeiro show da temporada que segue até o dia 3 de setembro.

Roberto se despede e, enquanto a banda segue tocando, começa a tradicional distribuição de rosas para a plateia. A cena não deixa nada a desejar ao auge da “robertomania” (versão nacional da “beatlemania”) dos anos 60 – mulheres se espremendo para ganhar uma flor entre as dez dúzias distribuídas.

Nada muito longe das bandas teens de hoje, como McFly e RBD, só que com décadas de carreira de distância. Sucesso e respeito – deve ser essa a fórmula do Rei para nunca perder a majestade.

Amauri Stamboroski Jr.
Do G1, em São Paulo

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