quinta-feira, 6 de agosto de 2009

As contradições de Sarney


Em seu discurso da tribuna nesta quarta-feira, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), negou as acusações de nepotismo das quais vem sendo alvo, por beneficiar parentes e agregados com nomeações para cargos na Casa. Disse, por exemplo, que não conhece Rodrigo Cruz — genro do ex-diretor do Senado Agaciel Maia — mas foi padrinho do casamento de Cruz com uma filha de Agaciel. A seguir, a versão de Sarney e os fatos.

NEPOTISMO

Sarney disse que não tinha nada a ver com a nomeação de parentes seus pelo senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA). Cafeteira é aliado de Sarney há muitos anos, e, ao contratar um neto seu, estava, em última instância, prestando um favor ao presidente do Senado. João Fernando Michels Gonçalves Sarney foi assessor do Senado e recebia R$ 7,6 mil po mês.

O senador disse que não conhece Maria do Carmo Macieira. Prima da governadora Roseana Sarney (MA), Maria do Carmo foi nomeada no Senado por meio de ato secreto.

Afirmou também que Isabella Murad Cabral Alves dos Santos não é sua parente. A moça é prima de Jorge Murad, genro de Sarney, morava em Barcelona, na Espanha, mas ganhava salário da Liderança do PTB no Senado desde fevereiro de 2007.

Sarney disse que não tem ligação com a modelo Nathalie Rondeau, nomeada em 2005, por meio de um ato secreto, para trabalhar no Conselho Editorial do Senado. Nathalie é filha de Silas Rondeau, ex-ministro de Minas e Energia, afilhado político de Sarney.

O presidente do Senado disse desconhecer Luiz Cantuária, funcionário do Senado e político conhecido no Amapá, estado pelo qual foi eleito. Cantuária chegou à presidência da Assembléia Legislativa. Ele foi funcionário do Conselho Editorial do Senado, o qual Sarney preside.

Disse que não tem laço de parentesco com Rosângela Terezinha Michels Gonçalves. Ela é mãe do seu neto João Fernando Michels Gonçalves Sarney, e passou a ocupar o lugar do filho a partir de outubro de 2008 com o fim do nepotismo.

Afirmou que não sabe quem é Rodrigo Cruz, que foi funcionário da Diretoria Geral da Casa. Rodrigo Cruz é genro do ex-diretor Agaciel Maia. Em junho, em pleno escândalo dos atos secretos, Sarney foi padrinho de casamento de Rodrigo Cruz com a filha de Agaciel.

Disse que não conhece Fausto Rabelo Cosendey, mas ele aparece na representação do PSDB como gerente administrativo da empresa do neto de Sarney (Sarcris, no Maranhão), José Adriano Sarney, e estava lotado no gabinete do deputado Sarney Filho.

Disse que nunca se relacionou com João Carlos Zoghbi, que foi diretor de Recursos Humanos do Senado nos últimos anos, inclusive nas gestões de Sarney como presidente.



Disse não se lembrar de quando o irmão Ivan Sarney trabalhou no Senado. Vereador por São Luís (MA) entre 1992 e 2004, Ivan Sarney foi contratado em 5 de maio de 2005 para cargo na Segunda Secretaria da Casa, então comandada pelo senador João Alberto (PMDB-MA). Em primeiro de fevereiro de 2007, foi transferido para o gabinete de Epitácio Cafeteira (PTB-MA).

Negou que tenha chamado parentes para sua assessoria. Nos anos 80, a sua filha, hoje governadora Roseana Sarney (PMDB-MA), foi efetivada como servidora do Senado por um trem da alegria. Roseana também trabalhou como assessora de Sarney na Presidência da República. Ele também admitiu que interferiu na nomeação de uma sobrinha e de um namorado da neta.

Fez discurso dúbio sobre a contratação de Henrique Bernardes, namorado de sua neta, para um cargo no Senado. Nas gravações da Polícia Federal, há um diálogo em que Sarney diz ao seu filho, o empresário Fernando Sarney, que iria falar com o então diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, sobre a nomeação do rapaz.

DIRETORIAS

Sarney disse que desconhecia que o Senado tinha 170 diretorias. Antes de ele ser eleito, o jornal O GLOBO publicou reportagem revelando o excesso de diretorias no Senado. Ele mesmo já admitiu que foi responsável, ainda no primeiro mandato de presidente (1995-1996), pela criação de 23 diretorias.

ATOS SECRETOS

Nesta quarta, Sarney dividiu a responsabilidade sobre atos secretos. No início da crise, negou que eles existiam. Agora, diz que os desconhecia e que não tem responsabilidade sobre todos.

AUXÍLIO-MORADIA

Disse que, por questão pessoal, não quis aceitar auxílio-moradia. Ele recebeu auxílio-moradia ilegalmente durante alguns meses, pois, na condição de presidente do Senado, tinha à sua disposição a residência oficial localizada no Lago Sul, de Brasília.

FUNDAÇÃO JOSÉ SARNEY

O presidente do Senado negou ter poder ou funções administrativas na Fundação José Sarney, em São Luís. Afirmou que delegou poderes no órgão ao advogado José Carlos Sousa e Silva. Mas Sarney é fundador e presidente de honra da Fundação, suspeita de desviar para empresas fantasmas e da família do senador pelo menos R$ 500 mil repassados pela Petrobras para patrocínio de projeto cultural que não teria saído do papel. O senador se empenhou para a liberação dos recursos da Petrobras e enviou bilhete ao então secretário-executivo e hoje ministro da Cultura, Juca Ferreira, pedindo para apressar a tramitação do projeto. Em 2005, Sarney pediu que a advocacia do Senado contestasse no Supremo lei estadual contrária aos interesses da fundação.

Da Agência O Globo

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